quarta-feira, 13 de março de 2013

Que Belo Time!


Era a final do primeiro campeonato estadual interbairros. Na verdade, final era meio exagero, porque ia ser o único jogo.
A idéia tinha vindo do Juca, numa conversa no bar, porque todo mundo achava que o solteiros e casados já estava mesmo perdendo a graça. O problema é que ninguém tinha dinheiro para divulgar direito o campeonato, então só se inscreveram eles, o pessoal do bairro vizinho e um outro bairro do outro lado da cidade, que ninguém sabia como tinha ficado sabendo do campeonato.
Mas o tal bairro tinha sido desclassificado porque no dia do primeiro jogo o ônibus deles quebrou no meio do caminho e a Dona Matilda, mulher do Seu João dono do açougue, que estava patrocinando o campeonato com carne para o churrasco, disse que era uma afronta deixar todo mundo assim esperando.
Então a grande final ia ser mesmo entre eles e o pessoal do bairro vizinho. Grande rivalidade, inclusive tinha dado uma baita briga pra ver quem ia ficar com o Formiga. Isso porque a rua que o Formiga morava ficava bem na divisa dos dois bairros. Ele até jogava no time dos casados toda semana, então o pessoal achava que ele devia jogar no time deles. Mas alguém do bairro vizinho resolveu ir no correio e verificar pelo cep, que era uma coisa de lei, e tinha confirmado que a rua do Formiga pertencia mesmo ao bairro vizinho. Mas aí o Seu Jair, dono da venda, disse pro Formiga que então ele que fosse comprar as coisas dele na venda do bairro dele, que ele que não ia ficar vendendo coisa pra Judas. Então o Formiga resolveu que não ia jogar em time nenhum, para não perder a amizade. Além do que o Seu Jair era o único que ainda vendia fiado pro Formiga.
Sem o craque do time, o pessoal resolveu caprichar na defesa. Chamaram o Cabelo e o Alemão para jogarem de beques. O Cabelo era o melhor defesa que já se viu. Manhoso que só, tinha várias técnicas de derrubar o adversário sem o juiz marcar falta. Já o Alemão não era alemão coisa nenhuma, era norueguês, ou búlgaro, ou alguma coisa por aí. Mas como ninguém entendia direito o que ele falava, todo mundo chamava ele de alemão mesmo, que é lá por perto. Esse alemão era muito ruim de bola, mas tinha um chute, que como dizia a tia Irene, parecia mais um “raio leise” de tão forte. O Ubaldo, compadre da tia, dizia que isso era por causa das comidas lá dos gringos, que tinha muito mais “sustança” que a nossa. O Ubaldo é um que entende muito dessas coisas de política. Ver o Alemão correndo na sua direção dando aqueles gritos de jujitsu alemão era uma coisa que assustava qualquer atacante.
E a confusão começou mesmo com o Alemão e o Cabelo. Isso porque com cinco minutos de jogo o centroavante adversário ficou sozinho com a bola na cara do gol. O Cabelo, no desespero, foi lá e deu um baita beliscão na bunda do centroavante e ele chutou pras arquibancadas. O juiz nem viu nada, mas o cara não gostou de ser beliscado assim sem mais e xingou a mãe do Cabelo. O Alemão, que não entendia essas sutilezas da linguagem, achou que o cara estava mesmo xingando a Dona Edna, mãe do Cabelo. Acontece que ele gostava muito da Dona Edna, que sempre oferecia pra ele café com bolinho. Aí o Alemão foi lá e enfiou um sopapo na cara do centroavante que o sujeito deve estar até hoje com o ouvido zumbindo. O juiz, que não conhecia o Alemão, foi lá esticou o cartão vermelho bem na frente do nariz dele. Pra que? Tiveram que vir cinco pra segurar o Alemão. E mesmo assim, quando conseguiram, o juiz já estava nocauteado. Alemão é povo brabo. Pra saber é só ver o estrago que eles fazem quando resolvem guerrear.
Depois disso foi um fuzuê que não tinha mais quem segurasse. Briga forte mesmo, de soco e voadora. O Formiga, que como já disse é meio tucano, resolveu entrar no campo pra tentar um deixa disso e acabou com o nariz quebrado. Além disso, a Dona Edna, que também não tinha gostado nada da “petulança” do centroavante, acabou acertando um quindim no padre do bairro vizinho, achando que ele era o bandeirinha, porque ele tava lá gritando e sacudindo a bandeira do time deles. E ainda disse que foi bem feito, porque “onde já se viu? Padre tem é que levantar cruz, não bandeira de time”. Aí o bate-boca continuou também pelas arquibancadas.
No fim, o delegado entrou em campo e levou todo mundo pra dar explicações na delegacia. Só que o Alemão não conseguiu explicar nada, ou ninguém entendeu o que ele explicou, e teve que passar a noite no xilindró. Mas depois o delegado levou pra ele dois espetinhos e uma cerveja do churrasco de confraternização.