quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Eu Sou o Tal

Cara, não aguento mais, tô fora, eu me demito!
Não é pra tanto? Não é pra tanto? Vou te contar, desde a época do viado do Esopo que eu só me fodo aqui. O velho fazia eu me fantasiar de ovelha! Nem vou entrar em detalhes, é muito humilhante.
Fora que aqui eu nem tenho nome. Todo esse tempo é só “mau”; nem que fosse um epíteto um tiquinho mais original: “terrível”, “furacão”, “detonador”, sei lá. Mas não, é só mau mesmo; mau, faminto e machucado. Isso não é vida.
E afinal de contas por que eu sou tão mau? Porque eu gosto de porco? As crianças assistirem desenho comendo bisnaguinha com presunto tudo bem, mas na minha pururuca todo mundo quer meter o olho gordo. Você já viu como fazem presunto? Deve ter uns 300 porcos diferentes em cada fatia.
Outro dia eu cheguei aqui varado de fome e o cara falou: “tudo bem, pode comer um porco, ele tá lá naquela barraca, é só derrubar.”. E eu: “beleza, como eu derrubo?”. Guentaí, você acha que pelo menos eu ia ter uma superarma de vilão, tipo um sabre duplo sith? O cara falou: “assopra”. ASSOPRA, VÉI! E depois que eu derrubei dois barracos ASSOPRANDO o sacana me botou pra assoprar uma casa de tijolo! Tô com a língua de fora até agora. E no fim, pra variar, não comi ninguém.
Sabe qual o prêmio que eu ganhei depois de tantos anos de serviço? Mandaram eu comer a velha! Todo mundo se dá bem. A raposa às vezes se dá bem, o leão quase sempre se dá bem, até a formiga se dá bem. E eu comendo a velha. Mas tudo bem, é o que tem, vambora. Tava lá eu na boa comendo a velha e entra um doido, gritando, brandindo um machado. O MALUCO METEU O MACHADO NA MINHA BARRIGA! Só porque eu tava comendo a velha. A velha!
Não, chega, pra mim deu, fui.
Pra onde eu vou? Vou pra HBO, tão contratando lá. Disseram que eu vou ter nome. Disseram que eu vou ser o bicho de estimação do rei do norte. Hahaha, dá até poesia: “Vou-me embora pra HBO, lá sou amigo do rei.”
DE ESTIMAÇÃO!
DO REI!
Aqui pra vocês!



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terça-feira, 23 de outubro de 2012

Pequeno conto de Halloween


O Vampiro e a Múmia se apaixonaram.
Os amigos da múmia futricaram:
-- Ele só quer seu sangue!
-- Mas eu sou de pano!
Mais que se amaram.
Ele escreveu a vida no seu tecido e ela se aninhou na sua capa.
Mas ela queria o futuro. Ele era do passado.
Se acorrentavam ao minuto.
A mulher morta, que vivia na parede, ria do romance desenganado.
O vampiro, que vivia morto, chorava com seus botões.
-- Você me deixou em trapos! – lamentava a múmia.
Ela não queria desculpas, mas não tinha como perdoar.
E sumiu, deixando para trás escritos farrapos.
O vampiro, condenado, todo dia (toda noite?), era obrigado a lembrar:
“Se ao menos eu ainda pudesse te olhar...”
E assim passou a eternidade.