terça-feira, 25 de junho de 2013

Pequenos Conflitos

Os maiores são onze anos maiores, e são três. Às vezes eu acho que eles consideram o irmão um boneco; valioso, com certeza, mas mesmo assim um brinquedo. Natural, afinal quem tem irmãos, principalmente quem tem irmãos muito mais velhos, sabe que essa provocação vem de épocas imemoriais.

Mas o pequeno não se intimida. Enfrenta os perigos de atravessar a sala com bravura e geralmente consegue fazer valer sua vontade.
Não dessa vez. Nesse dia um dos maiores estava me mostrando o trabalho de vitaminas feito para a escola. Bonito, os recortes de revista colados na cartolina, cada vitamina associada a um grupo de alimentos, muitas canetinhas, bem caprichado. O pequeno, porém, estava mais interessado em chamar minha atenção, afinal eu tinha dito que minha visita era especialmente para ver ele. Sem que percebêssemos, surgiu por trás da cartolina e puxou o trabalho da nossa mão.
- Não! Não!
Assustado com a possibilidade de ver horas de trabalho em pedaços, o maior pulou do sofá, tirou delicadamente das mãos do pequeno a cartolina e correu para o quarto guardar. Quem nunca tremeu diante da tela azul da morte do Windows que atire a primeira pedra. Parece, no entanto, que o pequeno não entendeu assim. Ficou amuado por ter sido tão intempestuosamente barrado da conversa. Foi para o outro lado da sala e logo já estava entretido com seus brinquedos.
Ou foi o que pensei. Alguns minutos depois, já entretido novamente na conversa com o trio, percebi que o menor estava apenas planejando sua vingança de dominação mundial. Enquanto todos estavam distraídos, correu em direção a cadeira em que repousava uma cartolina e jogou desafiadoramente tudo no chão.
Acontece que esse trabalho não era o mesmo que havia causado sua desonra. Esse era o do outro irmão, que nem estava presente no momento do primeiro enfrentamento. O maior, indignado com a atitude vil e depropositada, um ato de violência a seu ver completamente gratuito, correu em direção ao pequeno e rugiu. Essa é a expressão certa, apenas rugiu, porque nem passou por sua cabeça bater no pequenino.
- AAAAHHH!
- Tai, tai, tai – que é a interjeição predileta do pequeno para afastar qualquer inimigo.
- AAAHH, AHHH, AAAAAH
- Taitaitaitaitaitai
Finalmente, depois de alguns momentos de suspense, o menor finalmente cedeu e começou a chorar. Os gritos dos dois e as risadas da nossa turma do sofá atraíram o pai, que só pegou a fotografia do desfecho, com o grande rugindo ameaçadoramente para o bebê chorando.
- Foi ele que começou! – foi tudo que o maior conseguiu dizer antes de correr para o quarto numa clara estratégia de contenção de danos.
Eu apoiei a justiça:
- Foi sim, foi ele que começou, ele jogou o trabalho no chão sem que o irmão tivesse feito nada.
E o pequeno, traído por quem julgava ser seu maior aliado, acabou levando a bronca. O pai pegou ele no colo, enxugou suas lágrimas e levantou a cartolina do chão.
- Seu irmão levou muito tempo para fazer esse trabalho, você tem que tomar cuidado para não estragar. – explicou baixinho.
O pequeno entendeu que tinha perdido a disputa, mas não me pareceu muito certo quanto a justiça da derrota. Já o maior nem percebeu que tinha vencido e continuou emburrado durante a refeição, resmungando entre garfadas sobre os perigos de atos terroristas sem sentido. O pequeno, também emburrado, lançava olhares para o irmão que revelavam todo seu desprezo com trabalhos de vitaminas para escola.
Não durou muito. Não sei exatamente como ou quando a paz foi travada, mas ao final da refeição vi os dois juntos, brincando, o grande fazendo o pequeno rir.

Eu gostei, acho que todos os pequenos e grandes conflitos podiam ser assim. Porque nem sempre é errado ganhar no grito. Porque sempre o mais forte tem que tomar cuidado para não agir com violência desproporcional, mesmo que tenha que para isso sacrificar seu orgulho. Porque mesmo quando quem ganha não se sente vitorioso e quem perde se sente injustiçado, mesmo quando todos estão insatisfeitos, sempre tem que haver esperança de reconciliação.




quarta-feira, 13 de março de 2013

Que Belo Time!


Era a final do primeiro campeonato estadual interbairros. Na verdade, final era meio exagero, porque ia ser o único jogo.
A idéia tinha vindo do Juca, numa conversa no bar, porque todo mundo achava que o solteiros e casados já estava mesmo perdendo a graça. O problema é que ninguém tinha dinheiro para divulgar direito o campeonato, então só se inscreveram eles, o pessoal do bairro vizinho e um outro bairro do outro lado da cidade, que ninguém sabia como tinha ficado sabendo do campeonato.
Mas o tal bairro tinha sido desclassificado porque no dia do primeiro jogo o ônibus deles quebrou no meio do caminho e a Dona Matilda, mulher do Seu João dono do açougue, que estava patrocinando o campeonato com carne para o churrasco, disse que era uma afronta deixar todo mundo assim esperando.
Então a grande final ia ser mesmo entre eles e o pessoal do bairro vizinho. Grande rivalidade, inclusive tinha dado uma baita briga pra ver quem ia ficar com o Formiga. Isso porque a rua que o Formiga morava ficava bem na divisa dos dois bairros. Ele até jogava no time dos casados toda semana, então o pessoal achava que ele devia jogar no time deles. Mas alguém do bairro vizinho resolveu ir no correio e verificar pelo cep, que era uma coisa de lei, e tinha confirmado que a rua do Formiga pertencia mesmo ao bairro vizinho. Mas aí o Seu Jair, dono da venda, disse pro Formiga que então ele que fosse comprar as coisas dele na venda do bairro dele, que ele que não ia ficar vendendo coisa pra Judas. Então o Formiga resolveu que não ia jogar em time nenhum, para não perder a amizade. Além do que o Seu Jair era o único que ainda vendia fiado pro Formiga.
Sem o craque do time, o pessoal resolveu caprichar na defesa. Chamaram o Cabelo e o Alemão para jogarem de beques. O Cabelo era o melhor defesa que já se viu. Manhoso que só, tinha várias técnicas de derrubar o adversário sem o juiz marcar falta. Já o Alemão não era alemão coisa nenhuma, era norueguês, ou búlgaro, ou alguma coisa por aí. Mas como ninguém entendia direito o que ele falava, todo mundo chamava ele de alemão mesmo, que é lá por perto. Esse alemão era muito ruim de bola, mas tinha um chute, que como dizia a tia Irene, parecia mais um “raio leise” de tão forte. O Ubaldo, compadre da tia, dizia que isso era por causa das comidas lá dos gringos, que tinha muito mais “sustança” que a nossa. O Ubaldo é um que entende muito dessas coisas de política. Ver o Alemão correndo na sua direção dando aqueles gritos de jujitsu alemão era uma coisa que assustava qualquer atacante.
E a confusão começou mesmo com o Alemão e o Cabelo. Isso porque com cinco minutos de jogo o centroavante adversário ficou sozinho com a bola na cara do gol. O Cabelo, no desespero, foi lá e deu um baita beliscão na bunda do centroavante e ele chutou pras arquibancadas. O juiz nem viu nada, mas o cara não gostou de ser beliscado assim sem mais e xingou a mãe do Cabelo. O Alemão, que não entendia essas sutilezas da linguagem, achou que o cara estava mesmo xingando a Dona Edna, mãe do Cabelo. Acontece que ele gostava muito da Dona Edna, que sempre oferecia pra ele café com bolinho. Aí o Alemão foi lá e enfiou um sopapo na cara do centroavante que o sujeito deve estar até hoje com o ouvido zumbindo. O juiz, que não conhecia o Alemão, foi lá esticou o cartão vermelho bem na frente do nariz dele. Pra que? Tiveram que vir cinco pra segurar o Alemão. E mesmo assim, quando conseguiram, o juiz já estava nocauteado. Alemão é povo brabo. Pra saber é só ver o estrago que eles fazem quando resolvem guerrear.
Depois disso foi um fuzuê que não tinha mais quem segurasse. Briga forte mesmo, de soco e voadora. O Formiga, que como já disse é meio tucano, resolveu entrar no campo pra tentar um deixa disso e acabou com o nariz quebrado. Além disso, a Dona Edna, que também não tinha gostado nada da “petulança” do centroavante, acabou acertando um quindim no padre do bairro vizinho, achando que ele era o bandeirinha, porque ele tava lá gritando e sacudindo a bandeira do time deles. E ainda disse que foi bem feito, porque “onde já se viu? Padre tem é que levantar cruz, não bandeira de time”. Aí o bate-boca continuou também pelas arquibancadas.
No fim, o delegado entrou em campo e levou todo mundo pra dar explicações na delegacia. Só que o Alemão não conseguiu explicar nada, ou ninguém entendeu o que ele explicou, e teve que passar a noite no xilindró. Mas depois o delegado levou pra ele dois espetinhos e uma cerveja do churrasco de confraternização.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Papo Chapado: Resenhas Literárias


- Então, aí o cara acorda e acha que virou uma barata.
- Loko.
- Mas ao invés de se tocar que dessa vez abusou forte do ácido, o doido começa a entrar numa baita badtrip e subir pelas paredes!
- Hahahaha.
- No fim do livro o cara morre...
- Overdose.
- Só.
- Isso é coisa do governo, eles ficam patrocinando esses livrinhos antidrogas.
- Como se o nosso baseadinho fosse a mesma coisa que ficar injetando heroína até achar que é um inseto!
- Só...